terça-feira, 20 de janeiro de 2009

ERA UMA VEZ...

Era uma vez, mas eu me lembro como se fosse hoje. Acontecia uma gincana na Savassinha, e ao final da festa era erguido um imenso telão onde o povo se deliciava com vídeo-clips e cerveja. Estávamos fazendo a nossa famosa ronda noturna pelos bares da cidade e paramos por lá. Eu já meio alto pelas cervejas e James falávamos sobre o povo em geral. De repente um silêncio invadiu as pessoas de bom gosto que estavam no local. Os outros não se interessaram, continuaram a fazer a festa. Mas os bons pararam para ver no telão THE GREAT GIG IN THE SKY. Era um vídeo-clip de Pink Floyd sendo exibido, acho que pela primeira vez. A música nem precisa falar, é um marco mundial da composição artística. Mas no vídeo havia uma magia a mais, era ao vivo e as vocalistas era quase que surreais, sim, difícil acreditar em vozes assim, mas a prova estava ali, aquilo era possível. Em meio à multidão dividida entre emoção e festa, pudemos ver o Sr. Roberto Cruz (o “Rou”, cabeça feita em cinema e MPB. Proprietário do Movie Bar, local onde a nata da turma pensante se encontrava). Ele estava parado, vidrado na tela. Dele, o único movimento de se podia ter era um dedo que fazia girar a pedra de gelo no copo de wisky. O resto era reverência pelo que via na tela. Tenho certeza que ali em meio a concentração devia estar o Libério, Marcos Tiola, Claudia Kiara, Li, Valeria e outros. Penso que todos estavam parados como nós, apenas sentindo aquele “sonho acordado”. No final do da exibição, apenas olhamos um para o outro e seguimos sem dizer nada. Eu passei por Rou e toquei sua mão sem dizer nada. Nossa reação teria sido assim como na música que havíamos acabado de ver: sem palavras. Ninguém precisava delas, nem o som, nem o momento, nem as vocalistas que interpretavam os acordes sem si quer dizer uma só palavra. Isso aconteceu por volta de 1986.

DEPOIS DISSO O TEMPO PASSOU, MAS A GENTE NÃO.

E hoje chegam para mim e dizem:
“Tudo isso que você faz no teatro, e você quem cria ou copia de alguém!
Respondo: São coisas minhas mesmo.
E me vem a resposta:
“Duvido”

O que o povo não entende, é que no tempo de cultivar a maldade, a gente já havia crescido. E uma vez adulto, fica difícil cultivar novos hábitos.

Batidas na porta da frente. é o tempo
Eu bebo um pouquinho prá ter argumento
Mas fico sem jeito, calado, ele ri
Ele zomba do quanto eu chorei
Porque sabe passar e eu não sei.

Encontrei o vídeo na internet, o mesmo que citei no depoimento acima. Pensei que valia a pena postá-lo aqui para vocês.



Beijos e até o próximo post.

2 comentários:

Anônimo disse...

Meu amigo senti aquele momento agora e voce sabe qual emoção é .Costumamos dizer que arte é tudo e que palavras são tudo , mas devemos acrescentar que vozes sem palavras tambem são tudo não apenas gritos histericos.

Anônimo disse...

Deve ter sido muito emocionante esse momento, pelo que eu li... Acabei de ver o vídeo, realmente de muito bom gosto. Esses ritmos de antigamente, com muito piano, são ótimos!