sábado, 24 de julho de 2010

NOSSO MAL



Nosso mal é acreditar que os remédios vão banir todas as nossas dores, que a pessoa da qual gostamos nunca, em hipótese alguma, encontrará outro alguém, e que nós seremos a única oportunidade que ela tem na vida. Nosso mal é não saber cantar conforme a platéia quer ouvir, não saber conquistar com galanteios falsos. Nosso mal é acreditar piamente que o ser humano tem cura, que as pessoas ainda têm interesse em se preservar. Acreditar que uma reza pode distanciar mal olhado de gente mais forte que nós. Nosso mal é arrepender-se sempre e culpar-se a toda hora, por um simples mal entendido criado por nós mesmo e que nem efeito surtiu. Nosso mal é a honestidade, a bondade a flor da pele. Nosso mal é dar conselhos e adquirir, com eles, respeito que nunca deveriam ter existido. Nosso mal é ver nos olhos de uma pessoa que nos atrai algo que, lá no fundo, nos diz: "fulano também está afim de mim". E passar dias e dias remoendo esta idéia até que ela dissolva no ar nos provando o quanto estávamos errados. Nosso mal é hereditário. Porque, em nossa árvore genealógica, alguém deve ter sido assim também. Doença que passa de pai pra filho, irmão prá irmão. Nosso mal é gostar de um bom filme. De um bom livro, de uma boa música. Enquanto o resto se consola com qualquer coisa. Nosso mal é querer mais do que ser querido. É encontrar mais do que ser encontrado, é pensar mais do que suporta nossas memórias. É guardar rancores sem externá-los mesmo que isso fosse para nos salvar. Nosso mal é demorar nos abraços que damos, e que nem sempre são aceitos com tanta gentileza. Nosso mal é a sensibilidade. Sensibilidade esta que não é aceita por quem nos inveja, que é controlada por quem nos preserva e é invejada por quem nos copia. Nosso mal é afagar quando na verdade o desejo é de amar. É passar a mão no rosto dos outros com carinho de amigo quando o verdadeiro desejo é outro. Nosso maior mal pode ter sido ser jovem nos anos oitenta, e ter sugado a década com fome de urso e sede de leão. E ainda ter saído disso com a garra de homens maduros e sérios. Nosso mal é ser bom. Todo mundo tem um pouco de maldade na alma e uma névoa de inveja no peito, já a gente não. Nosso mal é ter dois medos: o de ser mal compreendido e o de ser atrevido demais. O medo de ser rejeitado é nosso mal. Ser amigo demais é algo que dói no peito de pessoas como nós. Porque conquistamos mais filhos, mais irmãos e mais amigos que amores, quando na verdade queremos perder a postura, perder a noção, nos deixar levar num beijo ou num sarro prazeroso entre dois humanos. Nosso mal é não ter conhecido a serpente do paraíso, não ter tido muito tempo prá pecar, nem ter muito tempo para se entender, dedicando todo o tempo a entender o outro. O outro que nos derruba, usa, admira, ama, respeita, inveja, mas nunca nos deseja.

De portas fechadas é mais fácil dizer não às sutilezas gentis dos outros.

Nosso maior mal é ser quadrado. Ter todos os lados iguais, sem novidades e sem surpresas. Mergulhados em uma mesmice cansativa e sem nenhum atrativo visceral.

E sabemos que tem de ser assim. Quem olha para o mesmo quadro todos os dias, decora seus detalhes muito rapidamente.

Nosso grande e extremo mal, é não ter tido tempo para aprender coisas que hoje nos faz falta.

Nosso maior e mais decepcionante mal é saber que somos cultos, inteligentes, bacanas porém solitários.

MARKUS MARQUES



BEIJOS COMO SEMPRE.

3 comentários:

Gustavo Freitas disse...

Nosso mal é querer pincelar a realidade, deturpando nosso sentidos, criando uma ilusão de que somos tudo... quando somos tudo mesmo, porém, tudo no tudo... é quase um nada.

depois le esse texto no meu blog, quando tiver um tempinho.

http://singuhlar.blogspot.com/2010/07/artistry.html



beijo Ju

Anônimo disse...

Este texto merece uma interpretação srrs.

Bjo enorme!!

Samira R.

Anônimo disse...

Na minha casa desde meu pai(já falecido) até meus irmãos, todos somos silênciosos , pois fomos educados para sermos honestos e limpos de carater , mesmo isso nos custando abdicaçôes. As vezes eu em particular acho isso um defeito ,mas prefiro padecer desse mal e continuar andando e olhando para os lados a me fazer de cego egoìsta. TE AMO MARCUS. JAMES